Madeira 2016
Arquitetos
João Branco + Paula del Río
Colaboradores
Gerson Rei
DUAS CASAS NAS ILHAS SELVAGENS
A localização das duas casas nas Ilhas Selvagens é muito diferente. Na Ilha Grande a casa situa-se num sítio difícil, junto a uma baía protegida do vento por uma escarpa acentuada, ameaçada pelas derrocadas e orientada a sudeste com uma forte presença do mar que se enfurece com as correntes atlânticas.
Na Ilha Pequena a situação é uma planície a uma cota muito baixa, desprotegida dos ventos atlânticos de norte, com o horizonte de mar em todas as direções, e com o promontório a oeste como única referência.
Um único sistema construtivo, escolhido pela sua simplicidade de transporte e montagem, é usado de formas diferentes adaptando-se a cada um dos lugares: à exposição solar, aos ventos dominantes, ao tipo de terreno e de acesso e ao programa funcional de cada uma das casas.
Um módulo de estrutura de madeira, cuja peça de maior dimensão tem quatro metros, adapta-se com um sistema de fachada praticável que permite aos seus ocupantes manipular o edifício, transformando-o; desde uma plataforma aberta ao horizonte até um abrigo, uma câmara protetora.
Com este sistema simples são criados espaços para acolher as três funções necessárias: dormir na intimidade, descansar e relaxar em grupo e trabalhar em contacto com a paisagem.
Esta versatilidade permite a cada uma das casas comportar-se como uma grande sala de estar, na qual a cozinha é o ponto central, à volta do qual se desenvolvem as suas funções, oferecendo sempre espaços de sol, sombra ou abrigo em função dos desejos dos seus habitantes. A cobertura de tela tensionada flutua sobre a estrutura e retorce-se para permitir a ventilação natural dos espaços e recolher a escassa água da chuva em depósitos que permitem o seu aproveitamento. A sombra que projeta, que não é totalmente opaca, cria uma luz particular nas varandas exteriores, uma atmosfera singular para um espaço de trabalho e de ócio privilegiado.
As duas casas estão pensadas para proporcionar a sensação de viver na paisagem. Transformam-se como relógios solares, a cada hora do dia, criando situações que fluem, do abrigo à abertura, ao horizonte, até ao ponto em que, em abertura total, a sombra da cobertura é o único limite com a imensidão da paisagem.
CONDIÇÕES CLIMATÉRICAS ÓTIMAS
O Clima nas Selvagens é agradável. A presença do Oceano em todas as direcções traz ventos de Norte que requerem protecção, mas as temperaturas médias anuais permitem condições de vida sem aquecimento ou arrefecimento mecânico
COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL E CONSTRUÇÃO SIMPLES
O desenho adotado fundamenta-se na sustentabilidade inerente ao programa de concurso. Intervindo em duas ilhas que se querem “virgens” procura-se a mínima pegada ecológica, a possibilidade de fácil montagem e desmontagem das estruturas e a mínima necessidade energética para um habitar confortável e em comunhão com a paisagem.
A madeira, material adotado para toda a construção, é um produto natural que produzido e abatido de forma cuidada se demonstra o material sustentável de eleição para a construção, pois esteve toda a sua vida a assimilar CO2, é leve, de fácil transporte, de montagem e desmontagem seca e rápida.
O sistema construtivo, baseado num módulo de 4x4x3m de peças lineares em madeira, e cujas peças singulares de maior dimensão têm 6m de comprimento (estrutura inferior da casa na Ilha Grande), permitem que todas as peças sejam transportadas e montadas por apenas duas pessoas.
A cobertura em tela revestida a Teflon permite o fácil transporte e rápida montagem, fazendo-se uso das suas propriedades de impermeabilização, que possibilita a captação de águas da chuva, ligeireza, sombreamento, resistência e reflexão dos raios solares.