Casa na Arrábida

Azeitão, 2022

Arquitetos

João Branco + Paula del Río

Colaboradores

Marco Silva

Joana França

© do mal o menos

Em plena serra da Arrábida,território de clima carateristicamente mediterrâneo, uma propriedade com 4hectares de flora autóctone continha uma casa construída nos anos 1990protegida por pinheiros mansos. 

Neste clima privilegiado, a 30minutos do centro de Lisboa e a 10 minutos do mar protegido do Portinho daArrábida, os proprietários desejavam criar um espaço de conforto paradescansar, em estreita relação com a terra e a paisagem da serra. 

O edifício existente eraconstrutivamente fraco, ineficientemente distribuído, e com pouca claridadeespacial, agravada já por sucessivos acrescentos. Contudo, o lugarera fabuloso, com uma envolvente de vegetação autóctone robusta que criavauma atmosfera serena em que o tempo passa devagar. 

O projeto confronta-se com anecessidade de dialogar com uma preexistência questionável, de estética tipotradicional e um projeto pobre, que não se adequava ao propósito de uso dosclientes, nem dialogava minimamente com o contexto. Uma construção de betão, semflexibilidade o que transformava qualquer obra verdadeiramente transformadoranuma empreitada grande e complexa.

A abordagem foi a oposta. Oprojeto aceita a casa, com as suas deficiências, e aposta em potenciar asvalências e incorporar pequenas operações que, com pouco esforço melhorassem arelação com o exterior e clarificassem o espaço. O projeto atua com precisão. Aprimeira decisão foi aceitar que a parte mais valiosa do projeto ia ser olugar, que já lá estava. A partir de aí, o foco orientou-se em procurar omínimo de matéria necessária para criar conforto, e conectar interior eexterior, sem estragar nada. 

A estratégia de intervenção noedifício centra-se em 3 decisões: 

- Aproveitar o máximo do queexistia: demolir o mínimo para clarificar do ponto de vista espacial.

- Reorganizar espacialmente ointerior com capturas do exterior, através de novos enfiamentos visuais quetrazem a serra para dentro. 

- Empregar materiais naturaiscom ótimas qualidades hápticas, que matizam de forma confortável a relação pele- natureza. 

Aproveitou-se a organizaçãoeste-oeste existente, com os espaços estanciais orientados a sul e os deserviço a norte. Repôs-se a configuração original do porche orientado a sul,aumentando-o com um tanque de água no meio das árvores, para funcionar como salaexterior, varrida pela aragem refrescada pela água. Cobriu-se todo o pavimentocom um tapete de terracota, material natural de proximidade, cozido a baixatemperatura, com ótimas propriedades ao toque (efusividade), de absorçãoacústica e de regulação de humidade. Desenharam-se novas janelas de madeira,criteriosamente colocadas, protegidas exteriormente por portadas de madeira,que permitem criar a atmosfera de penumbra necessária no verão, sombreada eventilada, e os necessários ganhos térmicos no inverno, expondo-se os vidrosfechados. 

A intervenção é silenciosae rigorosa, delicada, simples e económica, concentrada no objetivo de conseguirum habitat agradável e confortável numa relação próxima com o lugar.Acreditamos que esta economia de meios, respeito pelo lugar e precisão aointervir no construído, são centrais para um desenvolvimento sustentável,levando a que a pré-existência e a intervenção se somem para obter um resultadomais interessante do que se se tivesse refeito tudo.